combóio

ante pé, caminhava escondida, naquele lugar que não era o meu. Peúgas no chão, espalhadas. Bocados de papel atirados ao chão, deixados caír. A paisagem, essa, ia-se alterando à medida que o combóio se aproximava do seu destino. Estava à procura de algo, mas não sei bem do quê. Talvez de um espaço diferente, que me preenchesse um bocadinho mais do que o meu. Algo que me arrancasse daquele ciclo, em que uma mão gigante e amarela me colocou. Antes de ali estar, caminhava dentro de uma casa onde chovia. Havia dias em que a chuva miudinha e irritante me entrava por dentro da roupa e me causava arrepios gélidos. Outros em que o Sol brilhava. Estava sempre à espera da nova tempestade. Ali, estava em mudança constante, a observar uma paisagem familiar, memorizada. Procurei depois, pedaços de ti em mim. Aonde estão ? Não consigo encontrá-los. Tenho saudades dos teus segredos ditos ao ouvido, para que não se percam no caminho de um adeus sempre adiado. Não quero adiar mais. Quero agora. Poder fugir desta prisão invisível que me esconde do resto do mundo. Poder entrar num lugar onde os sonhos são proclamados tão alto que obrigatoriamente têm de ser ouvidos. Preciso que oiçam os meus sonhos. AGORA. As imagens fluem como gotas de chuva que precipitam sobre mim. É tudo tão estranho e simultaneamente faz tanto sentido. Toco no piano que se encontra dentro do combóio. As notas saem-me dos dedos para o ar. O som é absorvido por uma multidão que corre apressada. Ninguém dança. Mais uma vez não fui vista. Não fui ouvida. Não saí. Mas conquistei algo novo. A possibilidade de saír. De ouvir. De ver algo novo. Algo que o futuro me reserva. Algo meu. Só meu.

Comentários

  1. Não há pior do que ter pessoas ao nosso lado, à nossa frente, que convivem todos os dias connosco, mas que não nos "vêem" ou conhecem verdadeiramente. Não há nada pior do que pessoas que te vêem e ouvem, mas não te ESCUTAM. Acredita que vou sempre estar aqui para escutar os teus sonhos, desde que os queiras partilhar comigo :)
    Adoro-te Maggie

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  2. Como posso sentir-me abandonado mesmo quando o mundo cerca-me?
    Como pode a minha mão ser o alimento daqueles que são estranhos?
    Como posso saber de tanta gente, nunca sabendo na realidade quem são eles?

    A vida é tramada, e há pessoas que têm o prazer de tramar-nos,

    mas já o velho diz e com razão, "YOU WILL NEVER WALK ALONE!" ;)

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. omo muitas vezes, nos sentimos deslocados de uma realidade que é «nossa».

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